terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Após a Tempestade-Capítulo 21

No dia seguinte Aline acordou mais cedo que de costume,ela não havia dormido bem, a preocupação e as incertezas com relação a Paula tiraram o seu sono.Ela queria ligar para Paula e saber como ela estava, mas após refletir um pouco achou melhor não ligar, se a própria Paula pediu que dessem um tempo,ela resolveu esperar.
Agora Aline estava cheia de pensamentos negativos porque ela sentiu que Paula já estava cedendo a tudo o que seu pai falava,isso deixava Aline muito pensativa e receosa.Claro que ela não iria pressioná-la a tomar nenhuma atitude, mas também não poderia ficar na dúvida,mesmo assim preferiu esperar por um telefonema de Paula ou que ela a procurasse.
Assim Aline foi para o trabalho com o pensamento fixo em Paula.Ela lembrava de seu olhar,seus lábios quentes a sorrirem para ela, a lhe procurar toda vez que se aproximavam.Aline passou todo o dia pensando em Paula,na suavidade de sua pele, mas não era só isso, não era apenas desejo, era uma vontade imensa de estar junto dela.,de poder olha-la,toca-la, era um misto de saudade e desejo também.Aline não queria procurá-la, mas estava difícil segurar a  vontade, mas o dia passou e o telefone de Aline não tocou o que fez aumentar sua saudade e agonia.
A noite na faculdade Paula saiu da sala e foi observar Aline jogando.Ela adorava vê-la daquele jeito, as vezes ela até parecia um menino.Paula ficou parada observando como ela fazia antes.Aline jogava bem e era um dos destaques da equipe, ela impulsionava o time, animava as outras moças,os professores sempre a elogiavam e diziam que ela tinha um grande potencial.Ao perceber que Paula a observava, Aline mandou-lhe um beijo e acenou para ela.Paula sorriu.
Ao fim da aula,Aline não a procurou, ficou esperando em seu carro, sem saber se ela iria encontrá-la, e Paula foi ao seu encontro, elas se abraçaram.Ambas estavam loucas de saudade.Ao se abraçarem Aline disse;
-Amor que saudade que estou de você,pensei que você não viria me encontrar, eu tive tanto medo.
Ainda sentindo o calor do abraço, Paula respondeu:
-Como você pôde pensar que eu não viria, se eu também estava louca pra te ver, pra ouvir sua voz?Eu também estava morrendo de saudade.
Aline sorriu e apertando- a em seus braços falou:
-Eu amo demais esse abraço, eu precisava sentir você perto de mim outra vez, hoje foi um dia muito difícil, eu não estava mais suportando a vontade de te ver.
Paula acrescentou:
-Eu também adoro estar com você, pra mim também não foi fácil, eu precisava ir pra casa agora, mas eu não vou, eu quero ficar com você.Eu esperei ansiosa para te encontrar,agora tudo o que eu quero é poder te abraçar, ficar em seus braços, te amar de novo como da primeira vez.
Aline olhou para ela com aquela ternura que ela sempre teve e perguntou:
-Jura mesmo que você quer ir pra casa comigo?
-Claro que eu quero, esperei o dia todo por isso,agora eu quero ficar com você, curtir o nosso encontro, eu quero te amar e me sentir amada novamente, você me faz sentir o que nunca ninguém fez,por isso é tudo tão especial, tão diferente,a vontade de estar contigo, a saudade está me deixando ansiosa, inquieta, preciso de você, Aline.
Nesse momento, Aline a segurou em seus braços e disse:
-Confie em mim, eu não vou te deixar.Vamos para o meu apartamento.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Após a Tempestade- Capítulo 20

Aline foi para casa muito pensativa, ela estava com medo de Paula fraquejar diante dos problemas e desistir de lutar pelo amor das duas, ela não sentiu muita segurança nas últimas palavras de Paula, embora acreditasse no amor que ela estava sentindo e que estava sendo compartilhado.
 Aline às vezes tinha a impressão de que Paula pudesse desistir de tudo, e ainda havia Roberto que a assediava por todos os lugares, isso a incomodava demais agora que elas estavam juntas, antes ela não se importava tanto, mas agora Paula era a sua namorada e ela estava realmente incomodada, agora mais ainda com essa atitude inesperada da parte de Paula, o fato de estar sentindo receio e medo de enfrentar seu pai, ela sabia que ele era um homem rígido e que certamente não aceitaria com facilidade essa situação.
Paula era muito frágil e nunca teve coragem de assumir sua verdadeira condição sexual perante sua família, talvez pelo fato de nunca ter se envolvido realmente com uma mulher e nunca ter se apaixonado como ela mesma já havia falado , por isso Aline preferia acreditar que a atitude de Paula fosse um reflexo apenas da sua inexperiência e falta de iniciativa, a ausência de desprendimento familiar, enfim, tudo era uma situação diferente para Paula, mas apesar de tudo,Aline preferiu acreditar no que ela dizia, afinal ela era a pessoa por quem estava apaixonada, ela sentia que havia reciprocidade de sentimentos nas palavras e atitudes dela, por isso preferiu acreditar e esperar o tempo correr para ver o que o destino havia reservado para elas.
Ainda assim havia o medo de perder Paula , ela não queria e não podia perde-la, ela precisava desse amor porque ele havia lhe devolvido a vida, estava dependente disso, o que não era um bom sinal, mas enfim, só o tempo seria capaz de dizer, enquanto isso o seu coração já estava sendo tomado por uma saudade que antes ela não conhecia, tinha sabor de ausência, quando nos falta algo que desejamos muito, algo ao qual já nos apegamos, era essa saudade que agora a estava incomodando, cortando seu coração.Ela sentia falta do toque, do abraço, era como se as vezes sentisse o calor do abraço de Paula e como era bom abraça-la, te-la em seus braços.
Aline chegou em casa e deitou-se em sua cama, mas estava tudo muito vazio, estava frio, ela sentiu arrepios por todo o corpo e as vezes sentia Paula ali ao seu lado, mesmo ela estando distante.Era como se estivesse faltando um pedaço dela porque estava faltando tudo,Paula não estava ali..E naquela cama fria, vazia, no escuro e na solidão do seu quarto, Aline adormeceu, seu coração estava agitado e inquieto, como um pássaro recém liberto que sente que está perdendo o calor do ninho.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Após a Tempestade- Capítulo 19

As batidas de seus corações se misturaram às palavras quentes, aquelas palavras que nos fazem viajar, que nos tiram a calma, eram palavras doces que há tempos precisavam ser ditas.Enquanto suas respirações se juntavam no calor do momento, 


Paula e Aline mais uma vez se entregavam a um devaneio único, especial, tinha sabor de fruta recém colhida, e enquanto os lábios se encontravam as palavras se tornavam mais quentes, intensas. Havia muita doçura nos toques de suas mãos, elas já se conheciam agora e se buscavam a todo o momento e se tocaram cada vez de maneira mais intensa e mais gostosa. 


A suavidade do toque levou ambas a viajarem, a se desejarem, enquanto as mãos se buscavam, a respiração de Paula e Aline se juntavam ainda mais, agora se ouvia apenas os sussurros que revelavam um desejo mais que ardente, chamando por elas, pulsando, queimando dentro delas. As carícias foram se intensificando, as mãos de Paula tocavam suavemente o cabelo de Aline, enquanto Aline procurava sentir a suavidade dos ombros de Paula, passeavam pelas costas dela, Paula sentia a pele de Aline tocando seu corpo, suas mãos a desejando, procurando por ela, passeando sentindo cada pedacinho do seu corpo, o toque era cada vez mais intenso e mais delicado, mágico, encantador, Aline sabia exatamente como fazer Paula viajar em suas carícias e Paula sabia retribuir cada carinho de maneira especial, a delicadeza das mãos de Paula enfeitiçavam Aline e fazia com que ela procurasse mais e mais o corpo macio, quente e suave de Paula.


De repente Paula falou:
-Eu preciso te dizer uma coisa
Aline perguntou assustada:
-O que foi?Aconteceu alguma coisa?
Paula respondeu:
-Eu acho que é melhor eu ir pra casa sozinha, o meu pai já está pegando no meu pé, e por enquanto eu acho melhor a gente dar um tempo.
Aline olhou para Paula e perguntou:


-Você está com medo de que seu pai saiba a verdade?
Paula ficou em silencio por alguns segundos e depois respondeu:
-Eu sei que eu vou ter que enfrenta-lo, mas vamos dar um tempo, depois a gente volta a se encontrar.
Aline ficou surpresa com a atitude de Paula, ela sabia que Paula estava com medo de enfrentar sua família. Com a voz cheia de tristeza ela disse:


-Eu não acredito no que eu estou ouvindo. Você tem medo de enfrentá-lo?
-Não é isso amor, eu só não quero falar sobre isso com ele agora, ele está muito bravo comigo e já me falou uma porção de coisas.
-Paula, um dia ele terá que saber de qualquer maneira, quanto mais você fugir, será pior.
-Tudo bem, eu sei disso, mas você mesma disse que não ia me pressionar.
-Eu não estou te pressionando, só estou dizendo que chegará um momento em que você terá que enfrentar a realidade.


-Eu sei e só não quero que você desista de mim por causa disso, pois eu quero muito você.
Nesse instante Aline olhou carinhosamente para Paula e com ternura em seus olhos perguntou:
-Jura mesmo que você me quer?
-Juro, eu te quero muito, não deixo de pensar em você um só minuto, hoje pareceu que o dia não ia acabar, estava louca pra vir pra faculdade e poder te ver, estava morrendo de saudade de ver o seu olhar, de sentir seu toque novamente. Não sei o que faço, queria estar com você o tempo todo.
Aline sorriu para Paula e elas se beijaram.


Aline era como um pássaro que estava à procura do seu ninho, e calmamente foi aninhar-se nos braços de Paula. Era aconchegante aquele encontro, cheio de magia, ternura e carinho que estavam envolvendo as duas, aproximando-as fazendo com que elas procurassem cada vez mais se entregarem, agora não havia dúvidas ou medo. Uma confiava na outra, ali existia uma troca, nada era forçado. Elas se buscavam a todo o momento. Agora Paula e Aline sabiam que suas vidas estavam marcadas, eram duas vidas que se completavam, viviam o mesmo sonho e a mesma entrega.
De repente Aline perguntou a Paula:
-Você teria coragem de ir morar comigo?
-Claro que sim, por que essa pergunta agora?
Porque eu queria muito saber, você diz que está apaixonada por mim, eu acredito em você, mas preciso sentir segurança em suas palavras.
Paula ouviu e disse calmamente:


-Amor, eu sei que pode ser complicado porque sou muito apegada aos meus pais e nunca tive coragem de assumir, mas agora é diferente porque eu nunca havia conhecido uma mulher que me fizesse conhecer o amor, eu nunca tinha me apaixonado, mas desde que te vi pela primeira vez eu soube o quanto te amo e é você que eu quero.
Ao ouvir as palavras de Paula, Aline não se conteve e a beijou novamente.
Aline perguntou:
-Jura que amanhã você fica um pouquinho comigo?Quero te tocar, sentir seu corpo novamente, te beijar, estou louca de desejo. A minha vontade é te levar comigo e passar a noite toda com você.
Paula deu um sorriso provocador e completou:
-Eu Também quero passar a noite com você, e me sentir novamente em seus braços.
Aline sorriu. Seus olhos brilharam, ela falou baixinho ao ouvido de Paula:



-Que bom que nós sentimos as mesmas coisas. Eu vou te esperar amanhã então, quero você comigo.
-Eu também te quero comigo, não quero outra pessoa porque sei que não haverá a mesma entrega, pois somente você me faz sentir assim, eu amo e quero ficar com você. Você me fez ver o amor, onde eu só enxergava tristeza, não quero e não posso te perder.
Aline tocou a mão de Paula e olhando fixamente em seus olhos disse:
-Nós não vamos nos perder. Te espero amanhã.
Paula falou carinhosamente:
-Amanhã a gente se vê, quero sentir tudo novamente.Eu te amo...



quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Após a Tempestade-Capítulo 18

Aline ouviu com muita atenção as palavras de Paula, seus olhos estavam brilhantes, lacrimejantes. Ela havia novamente encontrado a paz. Paula estava lhe trazendo uma tranqüilidade que há tempos ela não sentia, ela estava sentindo uma paz imensa como alguém que está perdido e novamente encontra o caminha de casa. E, assim Aline passou a ter certeza de que Paula era o seu sonho real.


Paula desligou o telefone e tentou escrever o artigo, finalmente conseguiu, e o dia correu com a sua naturalidade, o olhar de Paula arrastando Aline para longe de tudo, levando-a de  encontro ao infinito.

O fato de Paula ter conhecido Aline era como se ela estivesse começando a encontrar a coragem que faltava para enfrentar e assumir sua condição. Aline estava lhe transmitindo uma força que ela antes não possuía, era algo que estava lhe dando entusiasmo e energia positiva, ela precisava disso, finalmente depois de tanto fugir de si mesma ela estava encontrando coragem para assumir sua condição. Agora não dava mais para fugir, ela estava pela primeira vez vivendo uma situação para a qual sempre achou que nunca tivesse coragem de enfrentar. 

Era isso talvez que agora lhe movia, lhe dava vida e um pouco de ousadia. Paula percebeu que a vida necessita de um pouco de ousadia e audácia e ela precisava ser ousada e audaciosa consigo mesma, somente assim conseguiria assumir a sua real condição, até então ela havia vivido uma vida de ilusões e mentiras. Ela estava cansada disso, estava decidida a ser feliz e viver plenamente. Paula pensou em Aline todo o dia que até se esqueceu de que deveria ter ido conversar com seu pai, como sua mãe havia falado, ele se irritou pela atitude de Paula.


Ao chegar foi ter com ela a tal conversa,e lhe encheu de perguntas:
- Quero saber por que você não nos avisou que ia passar a noite na casa de uma amiga?
- Eu sei que eu errei pai, mas já conversei com mamãe, já pedi perdão, por que sei que vocês ficaram realmente muito preocupados comigo.
Ele argumentou:
- Você devia ter ao menos ligado para nos dizer que estava bem. Você não sabe como fica o coração de um pai preocupado, quando sabe que a sua filha está pelo mundo, sem proteção, há muita maldade lá fora.
- Eu imagino pai, mas não se zangue comigo, prometo que não vai mais acontecer, fui irresponsável, imatura.

- Paula, minha filha, você sabe o quanto te amamos e te admiramos,você precisa ser mais responsável, e não nos deixar nessa agonia, sai por aí e não sabemos com quem, dorme na casa de estranhos.
De repente Paula o interrompeu dizendo:
- Ela não é estranha, pai.
Ele a questionou:
- Então quem é ela? Onde a conheceu?

- É uma amiga da faculdade. Pai ela é uma boa pessoa, quanto a isso o senhor não precisa se preocupar, eu estava bem. Ela estava me trazendo, mas as ruas estavam intransitáveis, então fui dormir na casa dela.

- Sim eu sei, sua mãe já me falou, mas o que não aceito é que nos faça ficar preocupados sem dar ao menos uma notícia. Isso é injusto comigo e com sua mãe. Você sabe que está errada e espero que isso não se repita mais. Você não tem mais idade para fazer isso com seus pais, você não é criança, Já é maior de idade, eu sei que por você ser maior não deveríamos nos preocupar tanto, mas há muita violência no mundo.


Paula ouviu as palavras de seu pai em silêncio, ela estava envergonhada, ele tinha razão, ela era uma pessoa adulta e estava agindo de maneira infantil. Ela sabia que seus pais eram super protetores mas também eram muito rígidos, estavam sempre de olho em tudo o que ela fazia e ficavam de marcação cerrada.


Era terrível, mesmo Paula já sendo uma mulher adulta, muitas vezes eles a tratavam como se ela ainda fosse criança,isso estava fazendo muito mal a ela porque isso a impedia de crescer como pessoa.

Ao ouvir as palavras de seu pai,naquele momento Paula teve ainda mais certeza do quanto seria difícil enfrenta-lo, ela sabia que ele não iria aceitar.Assim,ela ficou o resto do dia pensativa, receosa.

Paula era uma mulher dependente cujos passos ela não conseguia guiar por vontade própria, estava sempre fazendo o que seus pais queriam,não era dona de seu próprio destino.Essa era uma situação que ela precisava mudar, não dava mais para continuar tão dependente e presa a seus pais.E assim a conversa  com seu pai deixou bem clara a sua posição quanto ao comportamento de Paula.


A noite na faculdade ela procurou Aline para que ela lhe levasse para casa como havia prometido.Aline já a aguardava em seu carro.Quando Paula chegou ela perguntou-lhe:
-Oi, como foi o seu dia?
Hoje não foi muito fácil, minha mãe não gostou nenhum pouco o fato de eu não ter ligado para eles e ainda tive que ouvir meu pai me falando um monte de coisas, fiquei muito envergonhada.


Aline perguntou:
-Mas tudo isso só porque você dormiu fora?
-Tudo isso porque eu não os avisei que estava bem, eles ficaram muito preocupados ainda mais porque caiu aquela chuva toda, eles pegam no meu pé demais.
Aline falou:


-Você precisa se desprender um pouco deles Paula, você está muito dependente, você não é mais criança, eles também precisam entender que você deve ter sua própria vida.
-Eu sei, é o que eu estou tentando fazer, só peço que você tenha paciência, tudo isso é porque eu nunca fui uma pessoa de sair muito, sempre fui muito caseira, nunca gostei muito de baladas, sempre estive ali para eles, a minha presença sempre foi constante, eles não estão acostumados.


-É eu sei, eu não estou criticando o seu jeito de ser e nem o seu comportamento, você é adulta e sabe como deve agir, sabe que precisa ter a sua liberdade respeitada pra que possa viver sua vida de maneira plena.Você tem que procurar a sua felicidade.


Nesse momento, Paula olhou fundo nos olhos de Aline e disse:
-Eu sei que você não está me criticando, sei que está falando isso porque quer me ver bem, mas eu sei que terei que enfrentar essa situação.

Aline olhou para Paula, com os olhos cheios de ternura, Aline começou a desenhar o contorno de seu rosto com os dedos.

Seus olhos eram perfeitos, suaves,os traços de seu rosto eram como uma estrada distante e misteriosa e Aline caminhava por ela.


Nesse momento Aline disse:

_Nada poderá tirar de mim o que sinto por você.Eu tinha mesmo que te encontrar pra ter de volta a minha paz e a minha alegria.
Aline disse essas palavras enquanto Paula apenas ouvia e as palavras ríspidas de seu pai a sobressaltavam.






terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Após a Tempestade-Capítulo 17

Toda vez que ouvia Aline falar Paula sentia-se como se estivesse embriagada,parecia ter bebido um cálice da mais forte bebida.Era algo que ela não conseguia decifrar,era uma sensação intensa, às vezes parecia arrancá-la do mundo real e  caminhava com ela para um mundo de sonhos, fantasias,enquanto a voz de Aline calou-se.

Paula estava entorpecida,embriagada,como num estado de sonolência,seu corpo pedia mais uma vez a mesma energia,seus olhos estavam abertos, mas fixos no vazio,como se ela estivesse olhando o infinito,além do espaço que a rodeava.


Aline continuou a falar do outro lado da linha, suas palavras incompreensíveis agora, ela viajava,mergulhava num mar de emoções premeditadas,era incrivelmente mágico,a voz em seu ouvido.

Aline ficou em silêncio esperando uma palavra de Paula, mas ela ouvia apenas o silêncio.Paula estava em um mundo irreal, era como se ela estivesse caminhando no deserto,estava perdida, sem rumo.


E de repente , a voz de Aline veio  mais intensa, mais forte e entrou no ouvido de Paula,passeou dentro dela.Nesse momento, Paula voltou à realidade,Aline assustou-se.
-Paula o que houve?Você não me diz nada.
-Eu viajei em suas palavras, Aline.
-Você ouviu o que eu disse?
Paula respondeu calmamente:
-Sim, eu ouvi muito bem o que você disse.
-Mas eu vou repetir,.'Você está tatuada no meu coração, está cravada na minha pele."Você virou tatuagem Paula.


Paula disse:
-Isso quer dizer que estou marcada em você.
-Sim, é isso mesmo, você está marcada em mim. Eu não sei dizer o que é isso o seu olhar me arrasta, me faz viajar por lugares desconhecidos.Parece que fui levada pra muito longe de tudo.Você me tirou da escuridão de onde eu estava, me fez ver o sol novamente.
Paula ouviu em silencio e depois falou:

-Eu não vou mais deixar você na escuridão.
-Aline respondeu com a voz rouca, tímida e sem receios.
-Claro que não, agora você é o sol da minha vida.
Paula acrescentou
-A folha da sua roseira.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Após a Tempestade-Capítulo 16

Ao chegar em casa, Paula percebeu que Dona Sofia, sua mãe,estava apavorada porque ela não tinha o hábito de dormir fora de casa sem avisar.
-Mãe o que houve?Por que a senhora esta assim?
Dona Sofia olhou para Paula espantada e com ar de reprovação:
-Você ainda me pergunta?Onde você esteve?Por que somente agora está aparecendo em casa, você não imaginou que eu e seu pai íamos ficar  muito preocupados principalmente depois da chuva que caiu?

Paula respondeu:
-Eu sei que eu devia ter avisado mãe, eu dormi na casa de uma amiga.
-Mas por que  você não nos telefonou ao menos pra dizer que estava bem.Nós ficamos como loucos,ligamos no seu celular e você nunca atendia.
-O meu celular descarregou foi isso o que aconteceu , no momento da chuva uma amiga me ofereceu carona e quando estávamos chegando aqui no bairro algumas árvores caídas impediam a passagem dos carros então nós voltamos e eu fui dormir na casa dela.
-Ah tudo bem, mas devia ter nos ligado, seu pai está uma fera.Depois você se entende com ele,eu não quero nem saber.

-Tudo bem mãe, me perdoa, eu sei que eu fui irresponsável eu devia mesmo ter ligado, a senhora tem razão.
-Ainda bem que você reconhece.Eu sou mãe, e as mães se preocupam, você não liga porque não tem filhos, mas o dia em que se casar, tiver os seus filhos, você vai saber, quando você for mãe e o seu marido ficar falando na sua cabeça porque os seus filhos não te obedecem, aí você vai saber do que eu estou falando.

Dona Sofia olhou para Paula com o olhar fixo nela.Paula limitou-se a dizer:
-Perdão mãe, depois eu falo com o meu pai.
-Você não vai tomar café?
-Eu já tomei café na casa da minha amiga, não se preocupe.Eu preciso trabalhar agora.


Dona Sofia simplesmente olhou a filha e fez um sinal negativo com a cabeça em sinal de reprovação pela atitude de Paula.
Paula foi para o seu quarto e ligou o computador, ela precisava verificar alguns arquivos e emails , além disso ainda tinha que escrever o artigo para o jornal, mas ela não estava conseguindo se concentrar em nada, o tempo todo ela ficava lembrando dos momentos que passou ao lado de Aline.

Por um instante ela fechou os olhos e ficou viajando em suas lembranças,ela podia ver os olhos de Aline observando-a com ternura. 

A lembrança do olhar vivo e forte de Aline agora a perseguia como uma sombra a vigiá-la, a procurar por ela.Uma onda diferente viajou pelo corpo de Paula, enquanto seus olhos continuavam fechados,enxergando apenas Aline. Era o rosto dela que agora Paula via em seus pensamentos.

As lembranças a transportou para um universo diferente, desconhecido, inabitado,as sensações das quais Paula agora desfrutava eram como um vale sombrio e cheio de mistérios, como se atrás das sombras das árvores ela pudesse avistar um mundo que até então estava escondido e que de repente esse mundo desconhecido fosse pouco a pouco sendo descoberto, explorado por ela mesma.


Era surpreendente como todas aquelas sensações a transformavam como se ela estivesse em um estado de transe, e continuasse a sua viagem de tal maneira que fizesse com que tudo parecesse real agora, mesmo que fossem apenas as lembranças , mas elas eram vivas porque eram reais.

Paula ouvia a voz de Aline a transportar-se para dentro de sua alma.Aline repetia em seu ouvido as palavras que fizeram Paula viajar.Era uma sensação de desejo e saudade.Era real, Paula podia sentir.

De repente sua viagem foi interrompida pelo toque no seu celular.Era Aline.
-Oi, e aí como você está?
-Eu estou bem , melhor agora que posso ouvir sua voz.
-Que bom , eu também fico muito melhor ao ouvi-la.Posso te dizer uma coisa Paula?
-Sim, claro que pode.
A voz de Aline saiu trêmula, embargada pela emoção.Ela disse:
-Preste muita atenção ao que eu vou falar.
-Diga, estou ouvindo.
-Eu estou totalmente apaixonada por você.Eu fecho os olhos e te vejo, você está aqui comigo.
Paula ouviu e em seguida respondeu:
-Isso é a melhor coisa de se ouvir.Eu estava nesse momento a pensar em você.


Aline ouviu em silêncio e depois disse:
-Nossa, foi telepatia então, estávamos vivendo as mesmas sensações na mesma hora.
Paula comentou:
-Sim, foi telepatia e tem mais, quero te dizer algo.
-Diga.
-Não dá mais pra esquecer essa noite.Marcou demais, vai ficar pra sempre.
Aline completou:
-Então agora ouça o que eu vou te falar, é muito sério e verdadeiro, vem do meu coração, do meu corpo e da minha alma.Você está tatuada no meu coração, está cravada na minha pele.

sábado, 21 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro-Capítulo 15

Agora era a hora de voltar à realidade e começar a enfrentar a situação que as aguardava.Aline precisava ir para o trabalho e Paula também tinha que escrever algumas notas para o jornal.

Paula sabia que ela agora precisaria encarar a situação de frente,ela estava pensando como iria enfrentar seu pai, não seria fácil para ela,principalmente porque ele sempre dizia que nunca aceitaria uma situação dessas na família.Ela ficava lembrando das palavras rudes dele.Todas as vezes que pensava em seu pai lhe dizendo essas coisas,  imaginava quão difícil seria enfrentar tudo isso.Paula tinha certeza de que poderia contar com Aline, mas também precisaria ser forte e não desistir da felicidade, ela que sempre sonhou encontrar o amor verdadeiro.

Esse amor era tão especial porque era diferente,não havia mentiras, nem interesses,era a força que faria com que elas tivessem mais coragem para  enfrentar os desafios que estavam para chegar.
Paula estava olhando a rua através do vidro da janela, quando Aline disse:
-Eu vou te levar pra casa.
Ela respondeu:
-Não precisa, não se preocupe, a chuva diminuiu bastante, eu posso pegar um ônibus.
Aline falou:
-Nada disso, você pensa que eu vou deixar de levar minha namorada pra casa, com essa chuva toda que caiu?De jeito nenhum, eu levo você.
Paula insistiu: 
_Não precisa, eu já disse que posso pegar um ônibus, e, além disso, você precisa ir para o hospital.

-Mas dá tempo, e não adianta você insistir porque eu vou te levar sim, e não falamos mais nisso.
-Está bem, eu já vi que não vai adiantar mesmo, então vamos.


Paula pegou sua bolsa e seu material da faculdade e as duas saíram. A chuva estava caindo fininha e calma. Aline quis saber como Paula estava se sentindo.Ela perguntou:
-Você está com medo de enfrentar sua família?
-Não é medo, é um pouco de fraqueza mesmo, vai ser barra ter que enfrentar meu pai sabia?Ele é um homem um tanto antiquado, pra ele tem que ser tudo certinho, a filha tem que ter um namorado, depois o casamento, tudo como manda o figurino,ele sempre foi muito rígido.

-Eu sei, mas agora é o momento de você pensar em tudo isso, eu não estou te pressionando, já disse que não vou fazer isso, mas é a hora de você refletir e ir em busca daquilo que pode te fazer sentir melhor.Você sabe que uma hora você vai ter que enfrentar.
Aline olhou para Paula e ficou esperando dela uma resposta.
-É eu sei , mas só de pensar já me sinto apavorada, eu tenho medo porque eu sei que ele não vai aceitar. 

Ele sempre quis que eu estudasse, me formasse, tivesse um namorado legal e que me casasse, sempre sonhou comigo entrando na igreja de vestido branco, véu e grinalda, fico imaginando como ele vai se sentir quando souber que nada disso será possível. Eu não quero que você me ache covarde, mas eu nunca tive coragem de enfrentar, durante muito tempo eu fugi de mim, pensando que poderia ser diferente, que eu poderia ficar com um cara e ser feliz, mas isso não é possível, , eu me apaixonei por você desde o primeiro momento.E eu não vou desistir, só peço que tenha paciência,como você mesma disse eu vou saber quando chegar o momento.


-Aline olhou para Paula e passou a mão em seu rosto, depois disse:
-Vai dar tudo certo você vai ver, não se apavore, vá com calma. Eu queria tanto fazer com que tudo isso fosse menos doloroso e menos difícil pra você. Eu te levaria pra qualquer lugar onde você estivesse protegida de tudo. Eu queria pode mudar tudo pra nós, e tirar do seu caminho tudo que possa te fazer mal, mas eu não tenho poder para isso, então só posso torcer pra tudo dar certo e ficar do seu lado, então a hora que você tomar a sua decisão eu tenho que te apoiar, é assim que deve ser, e assim será. Eu já disse que não vou te abandonar, tenha certeza disso, você vai poder contar comigo sempre.


Aline sorriu e tocou na mão de Paula. Ela retribuiu o sorriso.
Aline completou;
-Fica tranqüila, com jeito nós vamos resolver essa situação, você vai ver, você só não pode se desesperar. Isso é uma coisa normal hoje em dia, mais tarde o seu pai vai ter que aceitar e entender.
-É verdade.
Paula olhou Aline e concordou sorrindo.
-Ao longe elas avistaram um grupo de trabalhadores removendo as árvores caídas.
Aline falou;
-Veja, já estão limpando as ruas por aqui.
-É ainda bem, pois a noite terei que ir à faculdade.
-Eu busco você.
-Não, a gente se encontra lá, aí se você quiser me trazer, eu agradeço.
Você acha que eu não vou trazer você?Se pudesse passaria o tempo todo ao seu lado, eu não vou perder a chance de te trazer pra casa.

-E eu vou adorar que você me traga.
-E eu trarei, certamente.
-Chegamos, Sua casa é aqui não é?
-Sim, é aqui, a noite nos falamos na faculdade.
Está bem, eu vou te esperar.
Elas tiveram uma troca de olhares muito rápida.
Aline beijou o rosto de Paula, e disse baixinho.
-eu quero você.
Ela respondeu-lhe:
-Eu sou sua.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro -Capítulo 14

O dia amanheceu, a chuva continuava a cair lá fora, Aline acordou e viu que Paula ainda dormia então se levantou em silêncio, tomou um banho rápido e foi preparar o café da manhã. Ela estava muito feliz e confiante de que Paula teria a coragem de lutar contra o preconceito de sua família.



Aline estaria ao lado dela, porque agora havia chegado a prova de fogo para Paula, ou ela assumiria a sua condição ou então continuaria levando a vida que sempre viveu e esqueceria tudo.


 Aline não queria que o sentimento entre elas se resumisse em palavras apenas porque agora tudo havia mudado.

De repente Paula acordou, nesse momento o café e o chocolate quente já estavam prontos, ela olhou para o lado e não viu Aline, então foi ao banheiro, tomou um banho quente e quando retornou Aline estava sentada no tapete da sala, ela havia trazido o café da manhã. Ela ficou surpresa e disse:

-Bom dia.
-Bom dia. Você dormiu bem?
Paula sentou-se no tapete ao lado dela e disse:
-Muito bem e você?
-Eu também dormi bem.
Paula perguntou espantada:
-Nossa, café na cama?
Aline, respondeu:

-Sim, ou você pensou que eu não trago café na cama? Só que nesse caso o café é  no tapete.(risos).
-É, eu não pensei que iria acordar e ter café na cama. Isso nunca tinha me acontecido.
Aline acrescentou:
-Pois então esqueça tudo o que já aconteceu, vida novaaaa.

Aline apenas sorriu e novamente perguntou:

-Você gostou da surpresa?
Paula respondeu com meiguice:
-Adorei, você é mesmo maravilhosa.
Aline falou:
-Maravilhosa é você, que me proporcionou esse momento lindo.
-Você também me proporcionou.

Aline queria agradar Paula de todas as maneiras e perguntou:

-O chocolate está bom?
-Está ótimo, você pensou em tudo.
-Sim, em tudo.
Os olhos de Paula estavam brilhantes como nunca. Aline olhou fixamente para Paula e a indagou?

-Você está arrependida?
-Não, nenhum pouco, e se pudesse faria a noite voltar e viver tudo novamente. Eu estou muito feliz e hoje eu tenho a certeza do que eu sinto.  Agora eu sei que eu não posso mais me enganar, nem fugir de mim mesma.
__Me diz uma coisa Paula. Você está preparada para enfrentar o que vem agora?
Nesse momento Paula olhou fixamente para Aline e depois de alguns segundos respondeu:
-Eu não sei, eu tenho que estar preparada não é?


-Isso só você pode saber, porque somente você é capaz de fazer as suas escolhas.
Aline olhou para Paula e as duas ficaram em silêncio durante alguns segundos, ela sabia que Paula tinha medo de enfrentar sua família, e apenas limitou-se a dizer:


-Não se preocupe, porque eu não vou te abandonar, eu vou estar sempre do seu lado, mesmo que você me diga que isso é problema seu, ou que eu não devo me meter em assunto de família. De qualquer forma eu estarei do seu lado, porque esse é um assunto meu também, se você não tivesse se envolvido comigo, certamente a qualquer hora você se envolveria com outra pessoa, então esse é um assunto que você terá que enfrentar, e eu quero estar ao seu lado porque estou envolvida nele, mas somente você saberá o momento certo, e eu não vou te pressionar, exatamente porque você vai saber a hora.


Nesse momento Paula olhou Aline e a abraçou fortemente dizendo:
-Promete que você vai estar do meu lado.
Aline respondeu docemente:
-Prometo



Aline começou a contemplar o olhar radiante de Paula que mais mais uma vez retribuiu todo o carinho e o sentimento do qual desfrutava, e o amor entre elas era tão natural como um encontro de almas, elas estavam ligadas por algo que transcendia o desejo físico, por isso era tão mágico e elas não conseguiam ver maldade naquele sentimento porque simplesmente ela não existia. 

O sentimento era natural como se elas se conhecem há décadas e que somente agora estavam podendo viver tudo isso. Não havia fingimentos, dúvidas ou qualquer tipo de receio. Era mágico e verdadeiro, ao mesmo tempo desafiador. 




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro- Capítulo 13

Paula e Aline adormeceram ouvindo a chuva cair. A cumplicidade que nasceu a partir daquela noite ajudou a fazer com que ambas se comprometessem a buscar a própria paz no  seu interior, sentir e compartilhar a essência de um sentimento que durante muito tempo esteve adormecido.


Não existia mais medo e nem desconfiança, o que as movia agora era o desejo de compartilharem suas vidas, cuidando uma da outra e ali naquele apartamento o silêncio da noite e a chuva que caía foram testemunhas de que entre elas florescia agora o mais puro sentimento e compromisso de fidelidade.


Paula de vez em quando se aconchegava, assim ela sentia-se protegida, como se nenhuma maldade pudesse alcançá-la, como se todas as coisas ruins estivessem sendo dissipadas e levadas para longe como as folhas são levadas pelo vento, e ela pudesse agora esquecer que durante muito tempo andou perdida, sem rumo, sem um caminho para seguir.

Enquanto o vento gelado continuava a soprar lá fora, elas permaneciam ali, as mãos estavam entrelaçadas, unidas. Para elas era o começo de uma nova vida, pois até aquele momento Aline não vivia, e Paula também não, apenas sobreviviam, porque não haviam encontrado o amor verdadeiro, sem interesse.


Aline sabia da fragilidade de Paula com relação as outras pessoas porque ela acreditava e confiava em todos, não via maldade em ninguém e isso a fazia sofrer porque se aproveitavam de sua bondade. 

 Paula não enxergava malícia nas palavras alheias, mesmo quando essa malícia estava evidente e era disso que Aline queria protegê-la, não para colocar uma armadura em torno dela, mas para que ela descobrisse a força guardada em seu interior e pudesse se proteger da maldade do preconceito.

Aline dizia para si mesma:

-Como eu gostaria de poder conhecer além do brilho das estrelas para fazer com que nossas vidas sejam cada vez mais fortes e intensas, para que aquela luz que buscamos não se apague perante a maldade e a discriminação dos outros, para que você não desista de lutar pelo amor que é capaz de lhe trazer a felicidade que você tanto procurou. 


Aline acreditava que um novo sol agora estaria nascendo para elas e seu brilho seria tão intenso que iluminaria suas vidas, mesmo quando elas se sentissem fracas. Pensando na força e intensidade daquele sentimento, Aline sussurrou:

-Doce menina, como eu queria poder tornar forte esse seu meigo coração para que ninguém te machuque, para que ninguém te faça sofrer, como eu queria mudar o seu destino e te proteger de tudo.
Com os olhos tristes e marejados, Aline novamente adormeceu.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro- Capítulo 12

Paula tinha um olhar encantador, seus olhos negros e brilhantes, um tanto quanto misteriosos, fascinaram Aline e aquele encontro foi um momento de encanto para elas que estavam como dois pássaros que acabaram de sair da gaiola. Elas permaneceram sentadas no tapete da sala e ficaram ali por um bom tempo. Através da cortina da janela elas observavam a chuva cair, lenta e gelada.


De maneira apaixonante, permaneceram ali, havia entre elas agora a magia da cumplicidade  de um amor que havia chegado na hora exata, como se houvesse a hora certa para amar.

Enquanto a chuva continuava a cair lá fora, Aline e Paula usufruíram do sentimento que era sincero e real.

Não havia cobranças nem dúvidas, o que existia ali era a certeza de que naquele momento um sentimento desabrochava de maneira especial. Havia duas almas, duas vidas, mas um só amor que agora  as unia e que havia se tornado a razão pela qual lutariam por dias mais felizes.

O vento gelado começou a entrar pela janela, Aline pegou um lençol  e jogou sobre elas, e as duas permaneceram ali , ouvindo a chuva cair. E adormeceram de maneira serena, como duas flores despertando para a primavera em plena tempestade.


As Mães de Pedro- Capítulo 11

Durante o trajeto a caminho do apartamento de Aline houve um silencio. Paula estava ansiosa.


Chegando ao apartamento Aline ofereceu a ela um pijama para que pudesse dormir confortável. As duas estavam molhadas da chuva. Paula tomou um banho quente e vestiu-se. Aline fez o mesmo.

Paula sentou-se no chão da sala, encostou-se no sofá e ficou olhando Aline preparar um chocolate. Enquanto isso Aline disse:

-Quando chover Paula, você me liga que eu te levo e te deixo em casa depois, não dá pra ficar andando por aí com essa chuva forte, você pode pegar um resfriado ou até mesmo uma pneumonia e eu não gostaria de vê-la doente. Quero te ver bem.


Paula ouvindo isso, disse:
-Pode deixar porque você vai enjoar de me ver.
Aline veio com dois copos de chocolate, sentou-se no tapete ao lado de Paula, deu um copo a ela e disse:
-Acha mesmo que eu posso me enjoar de você?
__Tenho certeza.
__Você pode estar enganada.
Paula sorriu com um olhar tímido e Aline começou a falar:


__ eu quero dizer pra você que ontem eu fiquei chateada em ver você ir embora com o Roberto, mesmo que você diga que não há nada entre vocês, ele está sempre correndo atrás de você, então eu não consigo pensar outra coisa. Mas por outro lado, se você diz que ontem não aconteceu nada, eu prefiro acreditar em você, além disso você não tem nenhum compromisso comigo, não há motivos para ficar te incomodando com isso.

Paula perguntou:
-Por que diz isso?
Aline respondeu:
-Porque se você quiser a partir de hoje ser a minha namorada, minha companheira, eu estou aqui. Se você quiser.

Paula olhou ficou em silêncio por alguns minutos e Aline acariciou seu rosto de uma forma única, diferente.

Paula fechou os olhos  e de repente a voz de Aline ao seu ouvido ecoou como uma canção distante, Paula estava como se estivesse em uma viagem dentro de si mesma, não havia nada lá fora. 

Ela estava agora se conhecendo de verdade, enquanto a voz de Aline transformada em canção ecoou em seu ouvido dizendo:
_Fica comigo.
Parecia que uma sinfonia era executada na sua voz melodiosa e serena e Paula na sua sensibilidade parecia estar sendo embalada por ela. Sua alma estava livre.  Ela abriu os olhos e respondeu com sinceridade:
__Eu quero.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro- Capítulo 10

O dia amanheceu, Paula observou pela janela, estava nublado prometendo chuva. Ela olhou-se no espelho, seus olhos estavam inchados, vermelhos e pesados. Ela sentia uma dor de cabeça horrível, as pálpebras doloridas.

Tudo o que ela queria era poder descansar, mas não podia, ela tinha que trabalhar, precisava escrever um artigo sobre um assunto importante para ser publicado na próxima edição do jornal. Ela não tinha muito tempo para fazer isso e no entanto estava se sentindo com o corpo péssimo por não ter dormido nada na noite anterior.


Então resolveu tomar um banho gelado e bebeu uma xícara de café bem quente. Depois tentou falar com Aline, mas o celular estava na caixa de mensagem. Paula sabia que a essa hora Aline já estava no trabalho e apesar de saber que ambiente de trabalho não era lugar para falar sobre assuntos pessoais ela resolver ligar dessa vez no hospital, mas a telefonista disse que Aline não podia atendê-la naquele momento e que ela ligasse mais tarde.

Impaciente, Paula não hesitou, pegou o primeiro ônibus e foi para a cidade de Aline. Chegando ao hospital dirigiu-se para a ala pediátrica onde ela trabalhava e do fim do corredor ela avistou Aline conversando com uma criança.
Paula foi caminhando lentamente, quando Aline a avistou ficou surpresa e disse:
Espere só um minuto que eu vou levar a criança para o quarto.

Aline se retirou, e depois retornou sozinha dizendo:
-Você sabe, eu estou em ambiente de trabalho, não podemos conversar sobre assuntos particulares perto dos pacientes, principalmente se forem crianças.

Paula falou:
-Sim, eu sei, mas é rápido. 

Aline disse:
-Então diga, não posso ficar conversando aqui.
-Sim, não se preocupe eu vou falar bem rápido e depois se você quiser a gente conversa mais em outro lugar.
-Tudo bem, vamos conversar.

Paula, com a voz trêmula começou a falar:

- Aline, eu liguei no seu celular mas só dava caixa de mensagens. Eu sei que aqui não é o lugar adequado pra gente conversar, mas eu precisava muito te ver pra esclarecer sobre ontem a noite.

Aline perguntou:
_Esclarecer o que sobre ontem a noite?

Paula olhou para ela um pouco surpresa e disse:
-O fato de eu ter ido embora com o Roberto, talvez você esteja pensando coisas negativas a meu respeito e não é nada disso. Não aconteceu nada entre nós, foi só uma carona mesmo, você sabe ,eu e o Roberto somos apenas amigos, eu já te falei sobre isso.


Aline apenas ouvia e de repente disse:
-Paula, mas eu sei que ele tem interesse em você, além disso, nós duas sabemos que entre nós existe um sentimento que não é de amizade.

-Mas Aline, foi só uma carona e eu não sabia que você se irritava tanto em me ver ao lado do Roberto.
-Me irrito sim e muito.

-Tudo bem, pelo menos agora eu sei, é que eu não sabia e nem esperava que ele estivesse na festa.
-Muita coisa você não sabe Paula.
-Você pode dizer pelo menos uma.?

-Não, não agora, não aqui, se você quiser, a noite a gente se fala na faculdade. Agora vai por favor eu não posso ter problemas, entenda.
-Tá, tudo bem, eu também tenho trabalho , e a noite a gente se fala então. Tchau
Aline respondeu:
-Até a noite.

Paula saiu caminhando rapidamente e Aline ficou observando ela desaparecer no final do corredor. Aline estava muito confusa com a atitude de Paula na noite da festa, mas ela estava decidida a conversar com ela e esclarecer sobre tudo o que sentia.


Paula voltou para sua cidadezinha, escreveu o artigo e enviou para o jornal, ela estava ansiosa, não conseguia se concentrar em nada.
E finalmente a noite chegou, ela foi para a faculdade, era dia de exame, apesar da chuva forte que agora caía, ela não podia faltar, e mesmo estando ansiosa ela conseguiu fazer o exame.

Mas a chuva só fazia aumentar, agora estava tendo trovoadas e relâmpagos, estava uma correria na faculdade de modo que alguns alunos e professores resolveram sair antes do horário normal pois havia tido uma queda de energia. Os estudantes foram se amontoando, uns saíam na chuva mesmo, outros aguardavam um pouco.

No meio daquela bagunça, Aline sabia que Paula não tinha carro e resolveu procurá-la e a encontrou no corredor no meio de um grupo de alunos. Sorte dela é que Roberto acabou o exame antes e já tinha ido embora e nem sequer lembrou de oferecer carona para Paula. Ao avistar Paula ela perguntou:

-Oi Paula, eu estou preocupada com você, quer que eu te leve? Está chovendo muito.
Nesse momento Paula olhou para Aline e disse:
-Você é mesmo um anjo, claro que eu quero.
Nesse momento as duas saíram no meio da chuva mesmo e foram para o carro de Aline.
Ao entrarem no carro, Aline disse:

-Que chuva! Você podia ter ligado no meu celular.
Paula falou:
-Eu não sabia se ainda ia encontrá-la aqui.
-É, mas a gente combinou de se falar, lembra?
-Sim, lembro. E acho que agora chegou a nossa hora.
-Sim, a nossa hora.

Nesse momento Aline começou a dirigir, a maioria das ruas estava intransitável devido à chuva muito forte, havia muita água, pegaram a estrada a caminho da casa de Paula, mas a surpresa maior foi que o início da estrada estava interditado em virtude da queda de uma árvore bloqueando a passagem dos veículos. Paula olhou e disse:
-Não acredito, aqui não podemos passar. 

Diante daquela situação não havia outra saída e Aline disse:
-Vamos para o meu apartamento, passe a noite lá.
Paula olhou para ela meio confusa ainda e perguntou:
-Seu apartamento?

Aline respondeu:
-Sim, as ruas que dão acesso ao meu bairro estão em condições muito melhores, não choveu muito forte por lá. É a sua única saída. Vamos?
Paula, olhou carinhosamente para Aline e disse:
-Vamos.


domingo, 15 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro- Capítulo 9

Paula continuou deitada pensando em como ela queria poder falar com Aline e saber como ela estava, o que estava pensando. Paula perdeu o sono e ficou rolando na cama de um lado para outro, levantou-se e resolveu tomar um vinho quente, essa era a sua bebida preferida.

Enquanto a noite ia passando Paula ficou ali encostada na cabeceira da cama, bebendo o vinho, seus olhos ainda estavam frios observando apenas o vazio do quarto. Havia um silêncio que incomodava, os olhos de Paula buscavam nesse silêncio ouvir a voz de Aline, às vezes ela pensava que ela estava ali perto a olhar carinhosamente para ela, a tocar-lhe o rosto com suavidade, mas era tudo uma ilusão.

Aline não estava ali, muito pelo contrário, ela estava longe de Paula, e sabe Deus o que estaria pensando, talvez estivesse mesmo a imaginar que Paula e Roberto tinham algo além da amizade ou talvez acreditasse nas palavras da amiga, mas isso somente Aline poderia dizer e enquanto não a encontrasse novamente Paula não saberia o que realmente ela pensava a respeito.


Nessa angústia e cheia de incertezas  ela ficou sentada na cama com o copo de vinho na mão, já estava no segundo copo e nada de adormecer.
Aline também  estava confusa, ela adorava Paula , mas a amiga sempre estava em companhia de Roberto isso a deixava com receio. 

De certa forma Aline sabia que Paula tinha uma família preconceituosa e que se quisesse viver sua vida de forma livre ela teria que enfrentá-los, mas isso era um assunto que não a incomodava agora, o que estava fazendo com que ela ficasse muito pensativa era a companhia de Roberto, o fato dele estar sempre atrás de Paula. Era disso que ela tinha medo, que houvesse realmente algo mais sério entre os dois.

E assim, Aline foi dormir pensativa e receosa.
Paula ao contrário não conseguiu dormir um segundo, ela estava muito arrependida, queria poder voltar atrás e recusar a carona de Roberto, mas agora já era tarde, um novo dia ia nascer.

sábado, 14 de janeiro de 2012

As Mães de Pedro- Capítulo 8

Enquanto se dirigiam para a casa de Paula, ela nada dizia, apenas ouvia Roberto falando. A voz dele a incomodava, ela queria que ele ficasse em silêncio, mas Roberto não se calava um minuto sequer.

Paula olhava a escuridão das ruas, pensava em Aline. Em silêncio ela perguntava para si mesma:
-Será que Aline teria se zangado com ela pelo fato de ter aceito a carona de Roberto?
Paula estava louca para chegar em casa e ligar para Aline, ela queria explicar que entre ela e Roberto não havia acontecido nada. 

Ela já havia falado que eram somente amigos, mas depois dela ter aceito sua carona, certamente Aline ficaria pensando muitas coisas.

Paula estava arrependida por ter ido embora com Roberto, ela ficava lembrando do olhar carinhoso de Aline, a  preocupação em protegê-la. Era diferente tudo o que Aline dizia, a maneira como ela havia se preocupado. 



De repente Roberto estacionou o carro diante da casa de Paula. Ela agradeceu por ele ter levado-a  e no momento em que tentou abrir a porta, ele a segurou pelo braço e disse:
-Paula, me dá uma chance, só uma.

Paula respondeu:
-Roberto, por favor, nós já conversamos sobre isso, não insista, eu não te amo e você sabe que assim nós nunca seríamos felizes.

Ele acrescentou:
-Mas eu te amo, eu não me importo se você não me ama, eu vou te fazer feliz, te prometo.
Paula , nesse momento abriu a porta do carro, saiu caminhando rapidamente e disse:
-Boa noite Roberto.
Ele insistiu:
-Paula, por favor.

Ela olhou para ele mas não disse nada , e foi para casa. Já em seu quarto, Paula deitou-se em sua cama, agarrou-se em seu travesseiro e chorou como uma criança. Ela estava apaixonada por Aline e sabia que viver esse amor ia exigir dela muita coragem. Ela foi até a janela e viu o carro de Roberto se afastar, e em seus olhos a imagem de Aline a mexer com o sentimento dela , como se agora ela não pudesse mais fugir disso, ela novamente deitou- se e sentiu frio, muito frio. Como ela desejava escrever uma outra história para sua vida.

Então ligou para o celular de Aline, mas ela não atendeu. Paula se odiou naquele momento e disse em pensamento:
-Meu Deus, faça com que essa noite acabe logo.
Paula desligou o celular e ficou ali deitada, os olhos frios fixos no vazio. Ela pensou:
Que noite!

Capítulo 61- As mães de Pedro

 Passada uma semana o advogado ligou para Aline avisando a ela que havia sido concedida a ela a guarda definitiva de Pedro. Ela ficou radian...