Capítulo 61- As mães de Pedro

 Passada uma semana o advogado ligou para Aline avisando a ela que havia sido concedida a ela a guarda definitiva de Pedro. Ela ficou radiante Paula e Aline sabiam que essa era uma nova etapa de suas vidas, agora Pedro dependia exclusivamente delas, eles poderiam viajar, sair da cidade quando quisessem sem nenhum problema. Na escola ele se referia a Paula como tia e Aline como a amiga do papai. Até que chegou a festa do dia das mães, a escola estava toda enfeitada, colorida e tocava uma música agradável para as crianças e as mães. Todas as crianças estavam acompanhadas por seus pais. Haveria entrega de presentes para as mães, Pedro estava lindo e radiante, como Aline não sabia que conseguiria chegar a tempo por causa do trabalho, Paula o acompanhou.

A diretora fez um agradecimento a todos os pais presentes e exaltou a importância da presença dos pais na vida escolar dos filhos, falou que isso era essencial para que as crianças se sentissem importantes para os pais.

Então no momento da entrega dos presentes cada criança foi entregar o presente para sua mãe. Quando chegou a vez de Pedro ele foi até Paula e a abraçou entregando para ela seu presentinho. Ela o abraçou emocionada, suas lágrimas escorreram em seu rosto, nesse momento Aline chegou no portão e os viu abraçados, havia entre eles um misto de alegria e lágrimas. Então Pedro falou para a professora:

__Essas são as minhas mamães e eu amo muito elas.

Aline foi até eles e os abraçou. Os três sorriam e choravam ao mesmo tempo. Houve muita alegria e lágrimas de felicidade. A tarde caiu e a chegada da noite prometia uma vida nova como um sol que se põe e espera o raiar do dia para aquecer os corações.

FIM

Capítulo 60 -As mães de Pedro

 No dia seguinte o advogado ligou para Aline avisando que estavam sendo providenciados todos os papéis da guarda de Pedro como André havia lhe pedido, foi quando Aline disse que André estava na UTI.

___De qualquer modo todos os procedimentos legais estão sendo tomados eu espero que André possa se recuperar.

E havia chegado o inverno, a cidade estava cinza e fria, um vento gelado batia naquela manhã de maio. Paula saiu e foi levar Pedro  para a escolinha enquanto Aline foi para o hospital. A brisa gelada batia no rosto de Paula, ela andava rapidamente a caminho do jornal quando o celular tocou.

__Aline é você?

__Sim Paula.

__O que houve?

Com uma voz embargada Aline falou:

__Acabou Paula, o sofrimento do André acabou.

Então naquela manhã gelada e cinza André partiu. Ele foi tranquilo, calmo, sereno. Aline viu do corredor quando ele foi retirado da UTI  e levado pelas enfermeiras. Não havia familiares a avisar, não havia amigos, havia apenas Aline, Paula e Pedro. Tudo foi organizado por Aline para que André tivesse um sepultamento digno. Ao final da tarde os três se despediram de André e Pedro perguntou:

__Para onde meu papai está indo?

__Ele está indo morar com alguns anjos.

_Ele morreu não é tia Paula?

Paula respondeu:

__Pedro, acontece assim, o nosso corpo fica muito doente e aí precisa descansar, um dia você vai entender.

_E quando eu vou poder vê-lo?

__Um dia.

Na sua tenra idade Pedro ainda não tinha talvez a dimensão da dor, era compreensível que ele fizesse tantas perguntas que até mesmo os adultos fazem. Eles se despediram de André e foram os três para casa. A tarde era banhada por uma neblina que cobria toda a cidade, o vento gelado daquele final de um dia triste anunciava um entardecer que Aline sentia em sua alma, afinal eles haviam sido namorados e apesar de todas as circunstâncias ela tinha carinho por ele. Ao chegarem em casa Aline se trancou no quarto e chorou em silêncio. Paula entendia sua reação, pois ela havia acompanhado todo o sofrimento de André. Paula entrou no quarto e viu Aline desolada, sentada no chão, encostada na parede, os olhos vermelhos. Paula se aproximou e abraçou-a. Aline falou soluçando:

___Paula não saia de perto de mim, por favor, eu te peço, eu e o Pedro precisamos de você.

Capítulo 59- As mães de Pedro

 No dia seguinte, Aline já estava no hospital quando soube da piora de André através de Sandra que lhe informou que havia sido levado para a UTI. Aline se mostrou apreensiva e perguntou:

___Na UTI?

__Sim, seu estado de saúde teve uma grande piora nesse fim de semana, ele teve convulsões e muita febre, infelizmente, as notícias não são boas.

Aline sentou-se em uma cadeira e disse:

__Sandra, eu ia falar para o André que o Pedro está conosco lá em casa, mas não tive tempo, a preocupação do André era o filho.

Sandra apenas respondeu:

__Reza, minha amiga, reza para que você ainda consiga falar.

Aline se levantou e saiu caminhando pelo corredor do hospital e observou de longe a sala de UTI, aproximou-se e olhou pela janela de vidro da porta. Ela viu André inerte, entubado, ela sentiu seu coração doer. André estava partindo. Aline se retirou em silêncio, chorou um pouco em um canto, foi quando o médico responsável por André passou e a chamou.

__Aline, pode me acompanhar?

__Sim, doutor Marcos.

Ela o acompanhou até  a sala do médico e ele já foi dizendo.

__Aline, acho que você já sabe que seu amigo André está muito mal, não sabe?

__Sim, doutor, a Sandra já me falou.

__Aline, se ele tiver familiares, avise-os, eu não tenho mais esperanças.

Com os olhos lacrimejados Aline olhou firmemente para Dr. Marcos e disse:

___Sim, Doutor, mas ele não tem familiares, não que eu saiba, só um casal de tios muito idosos e eu nem sei onde moram.

O médico observou:

__Isso é muito triste Aline, deve ser muito ruim partir sem nenhum familiar por perto.

__Sim, dr, eu só rezo para que ele seja acompanhado pelos bons espíritos.

O médico olhou para Aline e falou:

__Eu fiz o que eu pude.

___Eu sei, Dr.

O médico se retirou da sala e Aline ficou ali por um momento, em silêncio com a cabeça baixa, ela ligou para Paula em seguida:

__Alô Paula, eu não tenho boas notícias, o André foi levado para a UTI, O Dr. Marcos já conversou comigo , devemos nos preparar, pediu até que avisasse familiares, mas como você sabe não há como avisar os tios dele.

___Aline isso é muito triste, mas quem sabe o sofrimento do André esteja acabando, pense por esse lado.

__Sim, eu sei. Ore por ele Paula.

Aline desligou o telefone, Paula olhou Pedro que estava colorindo uma revistinha de desenhos. Paula se aproximou do menino e falou:

__Pedro, pode ter certeza que a tia Paula vai fazer o que for possível para te ver sempre sorrindo.

O menino perguntou curioso:

__Por que você fala assim?

__Porque a tia acha que todas as crianças merecem ser felizes, brincar, se divertir.

Pedro olhou para Paula e disse:

___Você deixa eu ficar sempre com você tia, até quando o meu papai tiver vindo me buscar?

___Eu prometo que sim.

Paula abraçou Pedro e ficaram assim por alguns instantes, ela sentiu seu coração doer, parecia mentira que ela estava vivendo aquela situação.

Capítulo 58- As mães de Pedro

 Aline ouviu Paula falar e em seguida perguntou:

__Paula, será que vão perguntar ao Pedro se ele tem duas mães?

__Aline as família hoje em dia não são apenas a família tradicional e você sabe disso melhor que eu, nós sabemos que atualmente existem vários arranjos familiares, são sobrinhos criados pelos tios, irmãos menores criados pelos irmãos adultos, netos criados pelos avós, casais que criam filhos de outros relacionamento todos ali sob o mesmo teto. Imagine a seguinte situação: Um casal hétero se separa, eles tem um filho biológico, então digamos que o homem forme uma nova família e sua esposa se afeiçoa ao seu filho que ainda é muito pequeno. Você não acredita na possibilidade dessa criança quando estiver maior considerar que tem duas mães? É  a mesma situação.

Aline olhou surpresa para Paula e em seguida falou:

__Nossa, eu não havia pensado nisso ainda, sabe que você tem razão? É a mesma situação!

__Sim, só mudam os personagens, minha querida.

__Paula eu não sei o que seria de mim sem você para me clarear a mente, com suas palavras, seu carinho e sua dedicação.

__Estou retribuindo o que eu recebo.

Paula sorriu para Aline e ela viu Pedro ao longe correndo com outras crianças. Havia sido um passeio perfeito. Aline percebeu que muitas de suas dúvidas e inseguranças quanto à guarda de Pedro estavam desaparecendo. Paula lhe dava uma grande força e Aline sabia que isso a encorajava, ela não podia se intimidar porque sabia que precisava enfrentar a situação por amor a Pedro e a elas também, e esse amor se tornaria mais forte para superar os problemas que surgissem. Pedro veio ao encontro delas e os três saíram de mãos dadas e foram para casa.

Capítulo 57- As mães de Pedro

___Sim Paula, eu estou preocupada com isso, nós temos visto muitos casos de preconceito e bullying entre crianças e adolescentes e isso m preocupa, quando o Pedro estiver maior e entendendo a situação, sabe como é? É isso, uma preocupação que eu tenho.

___Aline eu acho que você não deveria pensar sobre isso, o Pedro ainda é pequeno, nós podemos ensinar muitas coisas para ele, como o respeito, os valores, e quando ele estiver maior e começar a entender tudo isso , ele será um menino doce, educado, que vai saber respeitar  as pessoas , as diferenças, vamos ensinar a ele que cada pessoa é única, tem seu jeito de se comportar, de se vestir, um estilo de vida, as roupas que gosta de usar, assim ele vai aprender a respeitar as pessoas e vai saber também como se comportar se alguém se mostrar preconceituoso com ele ou praticar qualquer tipo de bullying. Além disso Aline não são apenas os filhos de pais homoafetivos que podem sofrer preconceito, crianças e adolescentes em outras situações também, por isso vamos ensinar o melhor para ele e tudo dará certo.

Após ouvir tudo o que Paula disse Aline falou:

__Paula me ajude, sozinha eu sinto que não vou conseguir.

Paula respondeu:

__Eu estou aqui Aline, vocês são a minha família e é claro  que eu não vou abandonar vocês, nós temos que confiar que tudo vai dar certo, e quanto a parte legal da guarda fazendo tudo como a lei exige não há nenhum problema e não há o que temer. Quanto ao Pedro , ele vai crescer, vai ser um adolescente feliz, vai nos respeitar e isso é o que importa. O preconceito existe e nós sabemos disso, mas eu tenho certeza que ele será bem orientado para lidar com essa situação e o preconceito a gente enfrenta mostrando respeito para as pessoas, porque ao mesmo tempo em que respeitamos, somos respeitados e é esse respeito que nós vamos ensinar ao Pedro.

Capítulo 56- As mães de Pedro

 A semana correu normalmente , Pedro voltou para a escolinha e Paula para o jornal, havia muito trabalho a fazer, Aline continuava trazendo notícias de André que não eram nada boas, ele não havia tido nenhuma melhora. Aline sabia que precisava se preparar o pior.

Era manhã de domingo, Paula e Aline como resolveram aproveitar o domingo em família e levar Pedro ao zoológico já que elas não trabalhariam e teriam o dia todo para passear. Então, logo após o almoço preparado por elas, os três saíram.

No zoológico Pedro se divertia observando um grupo de macaquinhos muito sapecas e animados que se exibiam de forma muito graciosa enquanto Pedro sorria, Aline e Paula sentaram-se em um banco e começaram a conversar.

__Sabe Paula eu tenho pensado muito no Pedro, nas coisas que eu gostaria de fazer por ele, nas coisas que eu sei que posso fazer, mas ao mesmo tempo me sinto tão insegura quanto a tudo isso.

_ Mas como assim Aline? você é a pessoa mais autoconfiante que eu conheço, corajosa, antenada com tudo. Não há o que temer.

Aline respondeu:

___Eu também tenho minhas fraquezas Paula, eu não sou essa muralha toda que você pensa, eu também tenho insegurança, medo, desânimo.

__Eu sei Aline, mas é que você sempre se mostrou tão confiante nesses assuntos que às vezes eu fico até surpresa. O que está te deixando tão insegura assim?

Aline respirou fundo e disse:

__Será que na escola no momento em que o Pedro disser que é criado por duas mulheres, será que ele vai sofrer algum tipo de preconceito?

_Aline, você está preocupada com isso?  Isso é a coisa em que a gente menos deveria pensar nesse momento. Eu nunca pensei que você fosse se preocupar com algo assim.

Capitulo 55- As mães de Pedro

 Era manhã de segunda-feira, enquanto tomavam o café da manhã Paula falou que elas precisariam adiar a viagem que haviam planejado para o final de ano, mas Aline disse que poderiam ir os três, ela, Paula e Pedro. Mas Paula não concordou:

__Não Aline, de jeito nenhum. enquanto a situação do Pedro conosco não estiver legalizada nós não sairemos daqui com ele para lugar nenhum. Nós não podemos fazer isso Aline. 

Aline ouvia atentamente e depois falou:

__Eu não havia pensado nisso Paula.

__Mas é bom pensar, aliás se eu fosse você entraria em contato com o advogado do André o mais rápido possível para saber como está a questão da guarda.

__Você tem razão Paula, não posso esperar o tempo passar, vou ligar para o advogado hoje mesmo. Mas, para onde vamos levar o Pedro se eu vou trabalhar e você também?

__Aline por enquanto ele pode ficar comigo enquanto estou realizando o trabalho remoto, mas isso tem que ser resolvido logo, pois em poucos dias terei que voltar ao jornal e lá não tem como o Pedro ficar.

__Eu entendo Paula e te agradeço por nos ajudar. Vou procurar saber qual escolinha o Pedro está frequentando para que ele possa continuar.

_ Aline, pela idade do Pedro ele deve frequentar a escolinha Monteiro Lobato, fica perto da pizzaria da Flávia.

Aline olhou para Paula um tanto surpresa e falou:

__Paula você está por dentro de tudo, você está me salvando e se tornando uma verdadeira mãe.

__Tia, o Pedro me chama de tia.

___Está bem, como você quiser, se você prefere assim, tudo bem, agora eu preciso ir, tenho que passar na escolinha.

Assim que Aline saiu Paula foi até o quarto onde Pedro dormia serenamente, seu rosto estava tranquilo e calmo, como se não tivesse nenhuma preocupação. Paula sentiu grande ternura naquele momento, ela tocou seus cabelos negros e lisos, caídos na testa, era um menino lindo. Como ela queria poder protegê-lo. Ela iria ajudar Aline da forma que ela pudesse, ela queria que Pedro ficasse bem, que ele se sentisse feliz ao lado delas. Em silêncio Paula se retirou do quarto e deixou Pedro dormindo, indo para seu escritório que ela havia preparado para trabalhar no serviço remoto.