segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Após a Tempestade- Capítulo 23

Roberto ficou olhando até o carro de Aline virar a esquina,ele agora sabia que havia algo mais que amizade entre elas.Ele caminhou em direção ao seu carro de cabeça baixa.A caminho de casa foi pensando no que havia acontecido.Às vezes ele se perguntava:
_Por que não eu?

Agora ele estava lembrando de todas as vezes em que desejou ter Aline em seus braços.Em silêncio ele falou para si mesmo:
-Como eu a desejei, eu quis tanto tê-la comigo, e ela escolheu uma mulher.Como eu pude ser tão cego?Como eu não percebi antes?
Roberto estava cheio de questionamentos,havia dentro dele  um sentimento vazio, sem vida,agora parecia que tudo o que sentia por Paula era apenas desejo,ele não queria falar de amor,já não tinha mais a certeza se um dia havia amado-a, ele sabia que a desejava muito.Seus pensamentos agora estavam confusos.Ele se perguntava:
-Desde quando Paula estava se relacionando com Aline?
-Será que no dia da festa as duas já estavam juntas?Não, não podia ser,Paula não fingiria tanto assim para ele, ele a levou para casa.
Com seus pensamentos perdidos em meio a tantas lembranças, ele pensou:
-Paula poderia ter me falado tudo naquele dia, mas ela nunca disse nada a respeito.
Roberto estava com vontade de dizer muitas coisas a Paula, mas ela nunca lhe deu esperanças, mas tudo o que vinha a sua mente era a imagem da noite da festa.Ele oferecendo carona a ela.Ela insistindo para ir embora com Aline, ele a levando para casa.Um filme estava se passando na cabeça dele e a imagem de Paula, apesar de tudo,estava ali a lhe atormentar,a segui-lo,a lhe tirar o sono.Assim que chegou em casa, ele foi logo se deitar e as lembranças de Paula o atormentavam.Roberto precisava se ver livre dessas lembranças..
Enquanto isso no caminho para o apartamento de Aline, as duas ficaram em silêncio, ninguém dizia nada.Assim que chegaram Aline quis saber o que Paula e Roberto haviam conversado.
-Ele queria me levar pra casa,veio dizendo que eu não falo mais com ele, que todas as vezes que tenta falar comigo eu estou com você e que as pessoas já estão comentando.
Aline perguntou com ar de surpresa.
-Ele disse isso?
-Sim, disse.Disse também que as pessoas podem ser cruéis com o que falam, me perguntou se eu vou mesmo dar a cara para a sociedade bater.
Aline falou:
-Então ele quis dizer que sabe que nós estamos juntas.
Paula respondeu:
-Ele não quis dizer.Ele disse.Ele já sabe.
-Mas como ele ficou sabendo?
-Ele é esperto, já percebeu porque está nos vendo sempre juntas.
Aline olhou para Paula e perguntou:
-Isso te preocupa Paula?
Ela disse:
-Não.Quer dizer, ele certamente irá contar para o meu pai.
-E você está com medo  que ele fale com seus pais sobre isso?Paula essa é a chance pra você abrir o jogo com eles.Aproveita e conta tudo, você vai ver que depois você se sentirá muito mais a vontade com essa situação.
Paula, com a voz irritada disse:
-Aline você não está entendendo,o meu medo não é apenas que a minha família saiba,porque como você mesma já disse e u também sei disso, um dia eles terão que saber, mas eu penso muito sobre a maneira como o Roberto poderá falar desse assunto com eles,porque ele pode falar de um jeito que os meus pais podem pensar que é apenas sacanagem ou safadeza como a maioria das pessoas falam por aí,muita gente diz que isso é palhaçada,safadeza, esses dias eu ouvi uma coisa horrível, eu ouvi um cara dizer que gay tem que apanhar.Será que você não percebe que isso é absurdo? Muitas pessoas lá fora tratam a homossexualidade como sacanagem e isso não é verdade, eu quero que eles saibam que existe sentimento,carinho, respeito, afeto, é disso que eu estou falando.E nós precisamos ser respeitados, somos cidadãos, cumprimos os nossos deveres, também temos direitos que precisam ser preservados,não somos diferentes de ninguém lá fora,de repente ele pode falar de uma maneira que o meu pai leve tudo pro lado da sexualidade, e nós sabemos que não é só isso.Exite amor, companheirismo,cumplicidade.
Aline falou;
-Paula, eu sei disso, você está certa, mas essa pode ser a sua chance de falar sobre isso com eles e só há uma maneira de fazer isso,  falando a verdade,encarando a situação de frente.
Paula por um momento se irritou:
-E você acha que eu mentiria pra eles?Eu vou dizer a verdade, eu quero que eles saibam, mas não me pressione,eu saberei quando chegar o momento, e saberei conversar com eles.Eu não quero que eles olhem isso apenas pelo lado sexual, porque não é só sexo, e somente eu poderei falar que existe sentimento porque eu vivo essa situação e não o Roberto.Isso é muito íntimo, é a minha vida, a minha intimidade, quem tem que falar disso com eles sou eu, ninguém mais,muito menos o Roberto.Eu não vou aceitar que ninguém invada a minha intimidade,ninguém.
Aline tentou acalmá-la:
-Está bem, amor eu já entendi,não precisa ficar brava comigo.
Paula olhou para ela com os olhos marejados e disse:
-Eu não estou brava.
-Jura?
-Juro.Estou nervosa, irritada, você me pressiona de um lado, agora o Roberto também,eu estou me sentindo contra a parede,por favor me deixem tranquila pra que eu possa conversar com eles numa boa,por favor.
Paula sentou-se no sofá e colocou o rosto entre as mãos.Aline sentou-se ao seu lado ,tocou suavemente seus cabelos e disse:
-Me desculpa, amor,se eu estou fazendo você se sentir pressionada,não era essa a minha intenção, eu só quero que você se sinta forte, que saiba que eu estou do seu lado.
Paula respondeu com a voz trêmula, ela estava quase chorando:
-E sei que você quer o melhor pra mim,e  que você não vai me abandonar, mas deixa isso comigo, esse é um assunto meu, eu vou ter que enfrentá-lo.
Aline sentindo que havia ido longe demais em suas palavras, disse:
-Está bem amor, eu peço desculpa novamente.
Ela tocou a mão de Paula e disse:
-Vem cá, me dá uma braço e diz que você me desculpa.
Paula respondeu olhando em seus olhos:
-Você está desculpada.
Paula a abraçou, colocou a cabeça em seu ombro e ficou assim por alguns segundos.Naquele momento ela encontrou a paz.



4 comentários:

  1. KKKKKK isso é verdade! O mais engraçãdo dessa história é que queria saber em que século, ou tempo esta história é passada, me faz refletir.

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  2. Essa história é super atual, conheço pessoas que ainda hoje enfrentam o preconceito da familia e outras que não conseguem assumir sua verdadeira condição sexual pois são discriminadas até mesmo por aqueles que deveriam amá-las,ademais não existe uma época certa para o amor e o romantismo, mas hj vejo que isso está e falta na maioria dos relacionamentos que são pautados apenas na busca do prazer e não na partilha de sentimentos, talvez por isso o mundo hj seja repleto de pessoas infelizes,frustadas que vivem correndo atrás de prazeres vazios, pois muitos relacionamentos são superficiais onde não há respeito, nem fidelidade e muito menos amor.

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  3. Sinceramente isso chega a ser vergonhoso,hj em dia as pessoas deveriam parar de julgar os outros pela sua sexualidade. Eu tenho 15 anos e me assumi bissexual pra familia,apesar de n falarem na minha frente eu percebi q eles me olham diferente. Isso é horrível

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